sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

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Apresentando a Loucura...


...nascida no meio de tantas delícias, não saudei a luz com o pranto, como quase todos os homens: mas quando fui parida, comecei a rir gostosamente na cara de minha mãe. Não invejo, o supremo Jupiter, por ter sido amamentado pela cabra Amaltéia, pois que duas graciosíssimas ninfas me deram de mamar: Amaltéia, a embriaguez, filha de Baco e Apédia, a Imperícia, filha de Pã. Ainda podeis vê-las aqui, no consórcio das outras minhas sequazes companheiras.

Se, por Júpiter, também quereis saber os seus nomes, eu vo-los direis, mas somente em grego. Estais vendo esta, de olhar altivo? É Philautia, isto é, o amor próprio. E esta de olhos risonhos, que aplaude batendo palmas? É Kolaxia, isto é, a adulação. E a outra, de pálpebras cerradas parecendo dormir? É Lethes, isto é o esquecimento. E aquela que se acha apoiada nos cotovelos, com as mãos cruzadas? É Misoponia, isto é, o horror a fadiga. E essa que tem a cabeça egrinaldada de rosas, exalando essências e perfumes? É Hedoné, isto é, a volúpia. E a outra que está revirando os olhos lúbricos e incertos e parece dominada por convulsões? É Ania, isto é, a irreflexão. Finalmente aquela de pele alabastrina, gorducha e bem nutrida, é Trophis, isto é, a delícia. Entre essas ninfas, podeis distinguir ainda dois deuses, um é Komo, o riso e o prazer da mesa, e o outro é Nigreton Hypnon, o sono profundo...

Erasmo de Rotterdam.




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